Igreja e Sociedade: Uma conciliação possivel?

Após o primeiro anúncio daquele que seria o Concílio Vaticano II em 25 de janeiro de 1959, João XXIII, hoje elevado à glória dos altares, foi questionado por alguns cardeais que receberam atônitos aquela notícia. Ninguém esperava que passados apenas três anos desde que assumiu a Cátedra de Pedro, Giuseppe Rocalli pudesse surpreender tanto.

Por César Augusto Rocha

Reza a anedota que, certa vez cansado das críticas que estava recebendo por ter convocado a assembleia conciliar, e estando ao lado de alguns desses críticos, levantou-se subitamente e aproximando-se de uma velha janela, abriu-a lentamente. “Esta é a minha resposta sobre o concílio: ar fresco”, disse, com um ar entre o “jubiloso e o indignado” como conta Constantino Benito Plaza (Juan XXIIII – 200 Anédoctas, Ed. Sígueme). De fato, a Igreja foi profundamente influenciada por esse vento de renovação trazido pelo concílio.

Dentre vários aspectos elencados nos documentos conciliares, destaca-se o desejo premente da Igreja dialogar com o mundo em constante transformação. Por meio da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” foram formulados os princípios orientadores para a missão da Igreja na sociedade. Nesse sentido, muito se tem avançado na tentativa de ouvir e atender os clamores dos pobres e excluídos, para que a Igreja se torne mais servidora e fiel ao projeto de Jesus Cristo. Claro que ainda há muito a se fazer, principalmente, quando percebemos a existência de velhas estruturas corrompidas por uma mentalidade ultraconservadora.

A dicotomia IGREJA X SOCIEDADE continua vigorando dentro das estruturas eclesiais. Para muitos, a Igreja é uma espécie de “ilha da perfeição”, isolada do mundo e de seus desafios, uma “alfândega para onde acorrem os justos e irrepreensíveis”. Para esses, é inadmissível o envolvimento dos cristãos em questões sociais ou políticas já que a missão da Igreja é unicamente salvar almas. Passados tantos anos, ainda não entendemos o projeto de Jesus Cristo. A sociedade é o campo especifico de atuação dos cristãos leigos e leigas, a messe para a qual devemos nos dirigir corajosamente como anunciadores do Reino de Deus.

Por outro lado, a Igreja não pode se apresentar diante da sociedade como a detentora da verdade absoluta numa atitude impositiva. Não podemos perder de vista o pluralismo religioso e cultural em que vivemos, característica da contemporaneidade, fato que nos remete inegavelmente ao DIÁLOGO como condição fundamental para caminharmos na mesma direção. É hora de somar e não diminuir, multiplicar e não dividir as parcerias e esforços para a construção de uma nova sociedade, sem nos esquecermos de que não somos uma estrutura a parte, distante, estamos sim inseridos no mundo e na sociedade tal qual o “fermento na massa”, para testemunharmos a fé no Ressuscitado e construirmos assim o seu Reino.

Concluo com os apelos do Papa Francisco que a todo instante insiste numa Igreja em missão, uma Igreja para fora, uma comunidade acolhedora e servidora. Esse é o convite fundamental para todos nós cristãos leigos e leigas: ser presença evangelizadora em todos os setores da sociedade, sobretudo, nas periferias da humanidade.

César Augusto Rocha – Presidente do CNLB/NE I e Secretário Pastoral da Diocese de Tanguá.

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