É PARA A LIBERDADE QUE CRISTO NOS LIBERTOU

Após a Ressurreição, o Senhor apontou para a Galileia, onde reconhecemos o horizonte aberto na Amazônia e em todo o Brasil, para levar adiante nossa responsabilidade de “discípulos missionários”.

Por: Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)

alberto_taveira_t21Em nossa Nazaré, inspirados pela devoção à Rainha da Amazônia, Nossa Senhora de Nazaré e por ela conduzidos, encontramos as indicações para vivermos os frutos pastorais do XVII Congresso Eucarístico Nacional, oferecendo-as como dom a todo o Brasil. Nazaré está na Galileia, região na qual Jesus exerceu grande parte de seu ministério. Jesus se deixou chamar “de Nazaré”. Viveu em Nazaré, ali fez a experiência da família e do trabalho, foi confrontado, incompreendido e perseguido. Foi na Sinagoga de Nazaré que inaugurou a missão (Cf. Lc 4, 18-19).
Após a Ressurreição, os discípulos devem voltar àquela região: “Jesus lhes disse: Não tenhais medo; ide anunciar a meus irmãos que vão para a Galileia. Lá me verão” (Mt 28,10).

Na preparação ao Congresso, visitamos outros lugares da fé, Jerusalém para conhecer de perto o Mistério da Eucaristia, Emaús para reconhecer o Senhor no partir do Pão e outras presenças suas e o mistério de Belém, Casa do Pão. Agora, voltamos a Nazaré da Galileia! Vamos à Galileia da Missão, da vizinhança com todas as situações desafiadoras de nosso tempo, na família, com as crianças e os jovens, diante do mistério do sofrimento e no amplo campo da caridade, para suscitar os frutos do Congresso na Evangelização. São temas aprofundados e rezados no Congresso Eucarístico.

Acolhemos a palavra do Papa Francisco e o assumimos como programa de vida e fruto do Congresso Eucarístico Nacional: “Ser cristão é, antes de mais e sempre, arrancar-se ao egoísmo que vive exclusivamente para si, para se entrar numa grande orientação inabalável de vida de uns para os outros. Jesus enunciou esta realidade da maneira mais profunda na comparação do grão de trigo, que mostra simultaneamente que essa lei essencial marca, desde o princípio, a criação inteira de Deus: Na sua morte e Ressurreição, Cristo cumpriu a lei do grão de trigo. Na Eucaristia, no pão de trigo, tornou-se verdadeiramente cêntuplo de que vivemos ainda hoje e sempre. Mas, no mistério da santa Eucaristia onde continua a ser aquele que é verdadeira e plenamente ‘para nós’, convida-nos a entrar, dia após dia, nessa lei que mais não é do que a expressão da essência do amor verdadeiro: sair de si mesmo para servir os outros. Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de júbilo comunitário, de solicitude pelos necessitados e pelas carências de numerosos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna!” (Cf. Papa Francisco, Audiência Geral do dia 12 de fevereiro de 2014).

A Família! Começamos em casa! Na família, muitos gestos significativos acontecem em torno da mesa! E o Senhor reuniu seus discípulos numa refeição, no clima das celebrações pascais dos judeus, para a última “ceia”! A Eucaristia é fonte de vivência harmoniosa no lar e compromisso concreto na vida cristã. Torna-se “espiritualidade familiar” para a vivência de tarefas e responsabilidades cristãs tanto na própria família, como também na comunidade de Igreja, em torno da Eucaristia, fecundando o espírito missionário com o qual cada membro da família é chamado a viver na sociedade. Na família, como numa Igreja Doméstica, devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um.

As crianças! Em Nazaré, Jesus viveu em família, foi criança, adolescente e jovem, aprendeu uma profissão, feito igual a nós em tudo, menos no pecado. Na Igreja, seguindo o caminho de iniciação cristã, nossas crianças são envolvidas no encontro pessoal com Cristo, presente na Eucaristia e presente na Comunidade. Olhamos para as crianças com olhar de preferência carinhosa. É a comunidade familiar que deve desempenhar a primeira tarefa de iniciar os filhos na fé cristã e na caminhada de Igreja, conduzindo-as ao Altar da Eucaristia.

Os jovens! Na família e na Igreja, os jovens! Os jovens se apresentam como grande desafio para a tarefa evangelizadora. Eles devem “sentir-se Igreja, experimentando-a como lugar de comunhão e participação” (Documento de Aparecida, 443). São “sensíveis a descobrir sua vocação a ser amigos e discípulos de Cristo. São chamados a ser ‘sentinelas do amanhã’, comprometendo-se na renovação do mundo à luz do plano de Deus, a partir da entrega de Jesus, que se atualiza na Eucaristia.

A Caridade! Ao mandato “Fazei isto em memória de Mim” (Lc 22, 19) está entrelaçado o mandamento da caridade: “Amai-vos uns aos outros. Assim como eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). A Eucaristia impele à missão e à caridade. Celebrar a Eucaristia é reconhecer a centralidade do Senhor que a instituiu, fazendo-se alimento para todos e dando exemplo a ser seguido pela Igreja até que ele venha. Jesus é Mestre do serviço e nos provoca a fazer o mesmo, nos gestos de comunhão e solidariedade com a vida de todos.

O mistério do sofrimento! É com o máximo respeito que nos aproximamos desse mistério, para superar a superficialidade na análise ou o julgamento da dor. No mistério pascal, Cristo deu início à união com o homem na comunidade da Igreja. O mistério da Igreja exprime-se nisto: a partir do ato em que alguém recebe o Batismo, que configura a Cristo, e depois mediante o seu Sacrifício — sacramentalmente mediante a Eucaristia — a Igreja edifica-se espiritualmente, sem cessar, como Corpo de Cristo. Neste Corpo, Cristo quer estar unido a todos os homens, e está unido de modo especial àqueles que sofrem. O sofrimento de Cristo criou o bem da Redenção do mundo. Este bem é em si mesmo inexaurível e infinito. Ninguém lhe pode acrescentar coisa alguma. Ao mesmo tempo, porém, Cristo no mistério da Igreja, que é o seu Corpo, abriu o próprio sofrimento redentor a todo o sofrimento humano. Na medida em que o homem se torna participante nos sofrimentos de Cristo, tanto mais ele completa, a seu modo, aquele sofrimento, mediante o qual Cristo operou a Redenção do mundo. Vale a mesma proposta que o Senhor faz a todos que o seguem: “Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo. Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!” (Lc 14, 27.33). Pela Cruz e somente por ela se chega à luz! E o ato de entrega seja sempre acompanhado da confiança total, expressa na oração suplicante e confiante no amor de Deus, especialmente na Eucaristia, que pode e realiza maravilhas, unindo todo o mistério do sofrimento à Cruz de Cristo, curando as chagas, consolando, enxugando as lágrimas e oferecendo oportunidade privilegiada para o testemunho da ação de Deus na história humana.

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