Da Exploração Ambiental a Riqueza de Quem?

Salvar o planeta do colapso iminente é responsabilidade de toda a sociedade em seus mais diversos níveis de organização. Somente ao implementar ações transformadoras, desde aquelas mais simples, de caráter pessoal, até as imprescindíveis mudanças de ordem estrutural, se poderá reescrever o final trágico predito pelos cientistas sobre a manutenção da vida no planeta.

Por: Marcio José de Oliveira

 

Imediatamente é possível adotar pequenas práticas cotidianas, nos espaços que nos rodeiam e que ajudarão a desacelerar a degradação na biosfera. Mudar pequenos hábitos, para alguns, pode parecer inócuo diante da gravidade do problema, entretanto, faz toda diferença quando se fala em mais de 7,2 bilhões de consumidores.

Em médio prazo, porém, são necessárias transformações mais profundas, que objetivem a reconstrução ideológica do papel que a humanidade atribui ao planeta, pois mesmo no cenário mais promissor de adesão pessoal às práticas verdes, é ingenuidade pensar que sem alterações radicais no modelo político e econômico no qual o Estado moderno está alicerçado será possível migrar efetivamente da atual relação biocida para uma prática sustentável entre a espécie humana e o meio ambiente.

Ações pessoais são eficazes e necessárias, entretanto, não conseguem por si só promover uma mudança profunda na estrutura que dissemina a idéia de uma natureza escrava do homem.

O desafio está posto: não basta apenas desenvolver ações que visem unicamente mitigar os sintomas da degradação ambiental, é necessário também combater as causas do problema para uma solução verdadeiramente eficaz, pois em uma sociedade estruturalmente injusta, dificilmente haverá espaço para relações de cuidado.

A ORIGEM DA AÇÃO BIOCIDA DA HUMANIDADE

Historicamente o modelo de exploração ambiental que carregou o homem até o estágio atual de desenvolvimento está alicerçado em duas grandes premissas: postulou-se que os recursos naturais, imprescindíveis para a existência e manutenção da vida, fossem inesgotáveis e acreditou-se, por sua vez, que a capacidade de homeostase da biosfera poderia remediar infindavelmente os impactos causados por processos antrópicos altamente poluentes.

Foi esse pensamento pragmático que condicionou o modelo de exploração adotado pela ordem neoliberal do mundo capitalista moderno: poder-se-ia explorar os extratos ambientais de forma predatória sem se preocupar com seu esgotamento, pois a sociedade humana, tecnocrática e autossuficiente, garantiria sua sobrevivência em qualquer cenário que se desenhasse ao longo da história.

Entretanto, o sinal de alerta já disparou há tempos, o que indica que somos contemporâneos de uma crise ambiental e civilizatória sem precedentes, e que ela marcará uma necessária opção que as nações terão de fazer: ou se entende o frágil equilíbrio do planeta e se colabora para sua manutenção, ou caminhamos para o caos generalizado, sem possibilidade de mitigação posterior.

O PANO DE FUNDO DA CRISE AMBIENTAL

É certo que a temática ambiental conquistou definitivamente espaço na agenda e ocupa lugar privilegiado na pauta de reflexão dos mais diversos setores da sociedade. Essa preocupação convergente com a integridade do planeta aparenta colocar lado-a-lado, numa análise superficial, atores sociais completamente antagônicos. Ora, é de se imaginar que se essas forças sociais se posicionam para defender aparentemente os mesmos princípios é sinal que possuem o mesmo objetivo, certo? Completamente errado!

Há sim, inegavelmente, uma preocupação global e legítima com o futuro do planeta, afinal, a vida na Terra corre verdadeiro risco de se extinguir, entretanto, há diferenças estruturais (de fundo político, econômico e social) entre as motivações e o modelo de exploração dos recursos naturais que essas forças desejam implementar.

Para a elite econômica o meio ambiente tem como função principal fornecer matéria prima em abundância a fim de proporcionar a maior concentração de lucro possível e, assim, a manutenção de sua hegemonia. A defesa ambiental por essas elites tem como dimensão escatológica a manutenção dessa desigualdade institucionalizada, expressa numa sociedade estratificada em classes, piramidal, e que comporta apenas relações de opressores e oprimidos.

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Opostamente, ocupando a vanguarda da luta por um novo modelo de relação ambiental pela humanidade, estão as organizações sociais de caráter libertário, que tem pautado seu debate e sua ação na educação popular para novas práticas, respeitando os limites dos biomas.

É nesta conjuntura que surgiu e vem ganhando espaço entre os movimentos sociais, ONGs, igrejas, ambientalista e intelectuais a concepção de Direitos da Natureza e Justiça Ambiental. Esses conceitos refletem o direito que todos os biomas possuem a um ambiente saudável, com substratos em quantidade e qualidade capazes de garantir a integridade dos organismos que neles habitam e de dar suporte para o desenvolvimento sustentável, concatenado e harmônico entre todos os seres vivos.

Para essas forças sociais, a exploração predatória dos recursos naturais com o intuito de se concentrar renda e aumentar ainda mais o abismo existente entre ricos e pobres não é legítima, pois o preço a se pagar é muito alto, e quem paga, invariavelmente, são as comunidades que se encontram em situação de risco. A natureza não pode ser instrumentalizada para saciar a voracidade de uma desordem conjuntural hedonista e consumista; antes, é necessário intervir de forma consciente, pois um planeta saudável é garantia de desenvolvimento equitativo para todas as espécies.

Márcio Oliveira é o Secretário Geral do CNLB Regional Sul I e membro da Comissão Nacional de Formação do Organismo.

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