Sejam Sal da Terra e Luz para o Mundo

O mundo vive num tempo desafiador. Por um lado, uma parte da população do planeta gasta energia demais, e para isso continua extraindo do subsolo e queimando fontes fósseis, mesmo sabendo que isso joga na atmosfera quantidades cada dia maiores de gases que aumentam a temperatura da Terra e provocam eventos climáticos extremos: enchentes, secas, ventanias, derretimento dos gelos, aumento do nível das águas dos mares…

Por: Ivo Poleto

Por outro lado, grandes empresas industriais transformam em produtos os grãos e carnes produzidas pelas grandes monoculturas do agronegócio com quantidades cada dia maiores de agrotóxicos, e usam ainda mais produtos químicos para preservar o seu gosto artificial. Com isso, esse sistema contamina os solos e subsolos, as águas e o ar, desmata florestas e, em vez de alimentos saudáveis, vende produtos que provocam doenças.

É neste mundo que os seguidores de Jesus de Nazaré têm a missão de serem sal e luz para a humanidade. E com um aviso muito sério, segundo o Evangelho de Mateus: se o sal perder a sua força e se a luz for escondida debaixo de uma caixa, para nada servirão! (Ver Mt 5,13-16)

Há muitas formas de ser sal e luz nos dias de hoje. Uma delas é o enfrentamento das mentiras que os ricos usam para nos dominar e explorar. Não é verdade que só se pode usar os conhecimentos e tecnologias do jeito que eles usam; é possível usar conhecimentos para corrigir as relações destrutivas com a natureza da Terra, e alimentar os solos com adubos orgânicos, colhendo alimentos saudáveis e cuidando de sua conservação de forma saudável. Não é verdade que a humanidade precisa continuar usando e abusando das fontes fósseis para produzir a energia que de fato precisa; já temos conhecimentos e tecnologias para produzi-la com fontes mais limpas, como o sol, os ventos, o biogás, o movimento natural das águas; e para perder menos energia e diminuir seu custo, é possível produzi-la perto dos que vão usá-la, começando em todos os tipos de telhados.

Enfrentar as mentiras e anunciar que é possível seguir caminhos diferentes, melhores para a vida das pessoas e com relações de cuidado amoroso com a Mãe Terra, é uma das práticas para ser luz para o mundo. E ao demonstrar como se pode avançar nesses caminhos com práticas novas, certamente nos tornamos sal da Terra.

A decisão de produzir a energia solar que a sede paroquial precisa e, agora, a inauguração desse serviço, tem tudo a ver com a missão cristã de ser sal e luz. Em primeiro lugar, está aqui a prova de que esse caminho novo é possível, e isso é como um sal que entra na cabeça das pessoas para experimentarem outros sabores, libertando-se das mentiras dos que desejam continuar vendendo energia produzida com agressão aos rios, queima de petróleo ou gás, explosão de átomos de urânio. Aqui, depois de pagos os componentes que ajudam a transformar os raios do sol em energia elétrica, ela será produzida gratuitamente por mais de vinte anos! Ela é um presente do sol nosso de cada dia, e não mais uma mercadoria como outra qualquer.

E agora, uma vez inaugurada, ela será como um grande candeeiro e uma cidade construída sobre um monte, iluminando não apenas a sala, o templo, mas a cidade, a região. Esta prática se torna uma luz para o mundo, anunciando, mais do que com palavras, que é possível relacionar-nos de forma diferente com o sol, descobrindo que ele é fonte permanente e gratuita de energia em todo lugar, ajudando a produzir alimentos saudáveis junto com os que cultivam a terra com amor, ajudando a produzir energia elétrica para tudo que precisarmos.

Como nos lembra o Papa Francisco em sua carta Louvado Seja, sobre o cuidado da Casa Comum, cabe aos cristãos revelar, com gestos concretos e com palavras, que toda a Criação tem origem em Deus. Tudo é sagrado, portanto. Cada ser é portador de uma mensagem de Deus. Por isso, a relação dos seres humanos com a Terra e com o Sol deve ser a de quem sabe que tudo está interligado, de quem sabe que é parte desta Criação. Para ter essa espiritualidade, os cristãos, em primeiro lugar, mas também toda a humanidade, precisam vivenciar uma conversão ecológica. É uma mudança profunda na visão e no estilo de vida, passando a duas atitudes: à denúncia do sistema dominante, que, por transformar tudo em mercadoria, já não o aguentam nem os pobres nem a Terra; e ao anúncio de que todas as práticas humanas devem estar marcadas pelo cuidado com a vida, a vida das pessoas, especialmente dos pobres, a vida de todos os demais seres vivos e a vida da Mãe Terra.

É vital lembrar que o sistema fotovoltaico desta paróquia não pode ser motivo de vaidade. Ele precisa ser anúncio de um dos caminhos novos que a humanidade deve seguir, e um compromisso de animar todas as pessoas e comunidades cristãs a terem a liberdade e a coragem de buscar e construir o novo, sempre agradecidos por tudo que recebem de graça, desde o amor das pessoas e de Deus até a luz e os raios do sol e a fertilidade da terra. E é nesse mesmo caminho e com essa mesma visão que o Comitê de Energias Renováveis do Semiárido (CERSA) e o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS) desejam continuar parceiros de novas iniciativas, com outras comunidades, paróquias e dioceses, rumo à Igreja Solar, rumo ao mundo novo, já possível, necessário e em construção.

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