Como você vê a juventude?

Não sei se você já parou para pensar como o jeito com o qual você trabalha com a juventude está profundamente ligado com o entendimento que tem do que é ser jovem. A gente não precisa ser estudioso da sociologia (embora isso ajude bastante) para entender que diferentes visões implicam em diferentes ações e posturas.

Por: Rogério de Oliveira

Claro que eu não quero ser simplista e achar que somente este aspecto (o que você entende por ser jovem) seria a única ligação que indica a maneira como você trabalha com ou para eles. Esse olhar para a juventude é um dos fatores que moldam o estilo do seu trabalho. Há outros fatores. Os grupos com os quais convive tem um peso, assim como o contexto da sua realidade contribui e muito também, por exemplo. Mas hoje eu quero dar um enfoque especial a este olhar.

Ao perceber o mundo que nos cerca, veremos muitas pessoas, agrupamentos, órgãos, instituições ligadas ao universo juvenil. E não tenhamos dúvidas, é bem claro que há diferentes interesses e visões do mundo juvenil que impactam essas maneiras de trabalhar. É sobre elas que quero trocar umas palavras com você.

Por que você trabalha com a juventude? Uma reflexão que ouvi certa vez apontava cinco intenções diferentes na aproximação e entendimento com o mundo juvenil. Há quem diga que uma sexta maneira seria a indiferença, mas convenhamos: muito difícil passar pela vida e ser indiferente a realidade onde as juventudes vivem.

E quero reforçar. Estas cinco intenções ou cinco modos é somente uma maneira didática e um pouco simplista de ver a realidade juvenil e suas implicações. A intenção na verdade é podermos analisar como nosso trabalho está implicado ora com um, ora com outro modo de ver e entender o que é ser jovem.

O primeiro modo é o do “Mundo Perdido”. Há uma perdição generalizada. O pecado corre fácil. É preciso salvar a juventude. Ela faz parte do caos e está a beira do precipício. É preciso fazer algo por eles. Há um tom alarmista, mas não chega a ser desesperador. Dentro desta visão, você que trabalha com a juventude tem uma missão importantíssima: evitar que os jovens “se percam”. A sua principal tarefa é contribuir na formação de uma juventude sadia para a reconstrução do tecido social.

O segundo modo é o “Big Brother”. Há um perigo na juventude. Muitos hormônios, muitas ideias, muitos perigos. É preciso estar de olho o tempo todo. Esses e essas jovens precisam ser controlados e controladas. Há uma força, um poder juvenil, uma agressividade latente. Sem controle, isto representaria perigo para as instituições. Sabedores desta realidade, neste modo, saiba que a sua principal tarefa dentro  é o de se aproximar e tentar neutralizar estas forças, apaziguar corações, controlar estes instintos.

O terceiro modo é o “Segue o líder”. A proposta aqui é integrar a juventude dentro de um modelo que seja seguro, correto e verdadeiro. Quem acredita neste modo, crê em instituições sólidas, firmes e que a primeira delas onde o jovem deve estar bem integrado é a família. Mas não pode ser qualquer uma, pois segundo o discurso do modo “Segue o líder”, as famílias estão desestruturadas, quase falidas.

É preciso que seja resgatado o modelo família tradicional, com ordem, hierarquia e clareza de serviços. Esta proposta integrativa se expande a toda sociedade, seja na escola, na Igreja, nas relações pessoais. E a sua tarefa dentro deste modo é a de ser mais um canal da instituição (seja qualquer uma delas) para se comunicar e ajudar que a juventude se integre dentro do modelo

O quarto modo não vê risco, não sente medo da juventude, pelo contrário. Trata-se do modo “Massivo”. Ele enxerga um potencial enorme nesta gente. Há uma força dentro deste grupo que não pode ser desperdiçada, seja no campo político, econômico ou ideológico. Grandes empresas investem suas campanhas publicitárias tentando conquistar a galera e vender um padrão de juventude pelas mídias.

Igrejas, congregações e movimentos veem o jovem como salvador de uma crise de falta de vocações, de números, de massa mesmo. Neste sentido, todos estes grupos acreditam que é muito útil ter a juventude por perto. E o seu papel aqui é justamente esse: ser um porta-voz da parte interessada que quer contar com a força massiva e a utilidade da juventude.

Antes de irmos para o quinto e último modo, e que você já deve imaginar que se trata da forma “ideal” de ver a juventude e trabalhar com ela (acertou!!!), volto novamente com a ideia dita acima, não estamos imunes a cometer nenhum dos desvios vistos anteriormente, pois vivemos num mundo plural e sempre encontramos quem pense assim e até quem nos influencie de uma maneira ou de outra. A proposta é que não percamos o horizonte.

Sim, o quinto e último modo é o “Conta Comigo”. Nossa prática pastoral, construída nas últimas décadas, tem em um dos seus vários pilares a expressão “Protagonismo Juvenil” e noutro a palavra “Acompanhamento”. O que isso quer dizer? Que no trabalho pastoral autêntico é a juventude quem cria, pensa, molda e põe a mão na massa. Acredita-se na jovem. Confia-se no jovem.

Não precisam de tutela, cabresto, que se diga o que devem ou não fazer, mas sim serem acompanhados e acompanhadas, com o testemunho de vida de quem quer vê-los e vê-las livres, felizes, com autonomia e participação na Igreja e na sociedade. Sua missão neste modo é ser companheiro e companheira na caminhada da juventude, lado a lado, mas sem confundir os papéis.

https://pejotando.blogspot.com/2020/10/como-voce-ve-juventude.html
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