Covid-19: E a crise? E o Trabalho, cadê?

Iniciamos o mês de maio com uma data emblemática: dia 1º de maio – Dia do Trabalhador! A Igreja relembra a figura de José que, sendo carpinteiro, assume com coragem Maria como sua mulher e também a paternidade de Jesus.

Por: Robson Ribeiro de Oliveira Castro

Papa Francisco afirma que “São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho”.

No exemplo de José, Jesus aprendeu o ofício de carpinteiro e também as tradições judaicas de seu povo. Aprendeu  o cuidado e o zelo pelo trabalho. Conheceu e aprendeu a manipular as ferramentas certas para cada tipo de madeira ou serviço. Conseguiu compreender a sua missão, atento ao que via na carpintaria de José, transformando um pedaço torto de madeira em lindos objetos.

Não é novidade que, ao nos depararmos com a pandemia do novo coronavírus (COVID-19), nossa realidade mudou. As transformações são visíveis e cada vez mais urgentes. A velocidade com que o vírus se espalha pelo mundo é chocante. E, no caso brasileiro, a falta de preparo dos líderes coloca-nos como um grande cemitério. Uma realidade que nos preocupa com a crise imposta pelo vírus é o desemprego. Decorrente a isso, a fome voltou a ser o cenário de milhões de brasileiros, mas, ao mesmo tempo o Brasil ganha novos bilionários.

Diante deste fato, falar de distanciamento social é algo sério nos nossos dias, dura realidade frente aos problemas sociais existentes. Segundo o IBGE, em 2018 havia 10 milhões de pessoas desempregadas! Já no primeiro trimestre de 2020 chegou-se à marca de 13 milhões de desempregados. Isso se dá pela crise que, diante da realidade da pandemia da COVID-19, muitos setores interromperam suas atividades.

O governo brasileiro, despreparado e desumano, não se preocupa em preservar os empregos e buscar alternativas para a vida de milhares de famílias. Desta forma, o país está entregue ao descaso, só há espaço para se falar de armamento, destruição das florestas e mares, além de discriminar os povos indígenas, negros, LGBTQI+ e todos que pertencem à parcela mais pobre e discriminada da sociedade.

Diante deste cenário, como comemorar o Dia do Trabalhador?

A realidade é dura e cruel; muitos brasileiros perderam seus empregos ou tiveram que adaptar a vida, por isso precisaram fazer algum tipo de “bico” para completar a sua renda. A pandemia colocou o ser humano em uma realidade complexa e difícil, por isso muitos trabalhadores se sujeitam à exploração para manterem seus empregos.

Essa realidade escancarou a desigualdade social e aumentou os problemas das periferias, não somente físicas, mas também existenciais, como já nos alertava o Papa Francisco.  Portanto, a crise do trabalho afeta as camadas mais pobres da sociedade. Desdobramento disso é que, não raro hoje, vemos um número ainda maior de homens, mulheres e crianças nos semáforos pedindo ajuda ou vendendo balas e doces. A crise chegou e mostrou a sua pior face: a fome!

Vivenciar este período, olhando para a realidade, é um convite à conversão. Diante dos desafios, somos chamados a nos colocar no processo de reinvenção do cotidiano. Recriar atitudes e novo jeito de ser e viver. O Papa João Paulo II apontou a necessidade de se tratar o trabalhador com dignidade e o respeito. “O trabalho humano provém das pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus, chamadas a prolongar o trabalho da criação”, por isso nenhum ser humano deve ser tratado como objeto.

Infelizmente esta realidade ainda é muito distante e difícil, pois a sociedade vive com pressa e sem tempo, voltada para dentro de seus pequenos mundos, cavernas que nos levam a fugir da realidade. A tecnologia veio a nosso favor, mas também nos faz adoecer.  Para tanto, é preciso uma ética social que nos faça refletir sobre nossas condutas e nossa relação frente aos mais frágeis da sociedade.

Francisco apresenta o desejo de um mundo mais humano e coerente com o Evangelho, sendo ético nas suas ações. Na oração do Ângelus do dia 02/08/2020, alerta: “sem trabalho, as famílias e a sociedade não podem seguir em frente”.  Por isso, diante desta realidade uma pergunta ressoa: “E o trabalho, cadê?”

Que seja necessário reafirmar a dignidade do trabalho e do trabalhador todos os dias. “A crise do nosso tempo, que é econômica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova ‘normalidade’, em que ninguém seja excluído”, afirma o Papa Francisco na Carta Apostólica Patris Corde.

Não estamos sozinhos, não nos construímos sozinhos, somos fruto da realidade e do ambiente em que vivemos. A nossa condição humana e a nossa conduta ético-moral devem ser pautadas em princípios, pois diante do outro e da sua agonia, devemos considerar como nossa também a sua dor e o seu sofrimento. Uma conduta moral duvidosa, sem apreço pela vida, nos leva a deixar de vivenciar os melhores momentos de nossas vidas. Papa Francisco faz a sua prece a São José: “Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nós possamos nos comprometer e dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho”.

Robson Ribeiro de Oliveira Castro – Leigo, casado, pai da Emília e do Francisco. Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH. Membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.

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